O impacto da velocidade nos acidentes e nas lesões
31 agosto 2022Artigo de Francisco Castro, investigador em dinâmica de acidentes no INEGI.
A velocidade é um dos principais fatores de risco nos acidentes de viação, estando diretamente relacionada com a ocorrência do acidente e consequentemente com a gravidade das lesões que desse podem resultar. A taxa de sinistralidade em Portugal continua a ser uma das mais elevadas da Europa e segundo os dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, o excesso de velocidade é a infração mais cometida pelos portugueses1, sendo a nível mundial a primeira causa de morte nos mais jovens.
A determinação das velocidades e as manobras de evitabilidade associadas ao acidente são fatores-chave a determinar, assim como qual a probabilidade e grau de lesão geralmente associada a essa velocidade. O CENPERCA – Centro Pericial de Acidentes do INEGI realiza, por isso, estudos e reconstituições científicas de acidentes de viação, a pedido de entidades como Tribunais (Cíveis, Criminais e Ministério Público), forças da autoridade, ou entidades particulares.
O excesso de velocidade está presente em 90% dos acidentes com vítimas mortais que chegam ao CENPERCA. Apesar de não ser o único fator, é sem margem de dúvida o fator com maior impato, como podem ser verificados nos seguintes exemplos de acidentes analisados pelo CENPERCA. O aumento na velocidade de impacto aumenta o risco de lesões graves e o risco de fatalidade associados.
Atropelamentos
No caso de atropelamento a 30 km/h, 95% das pessoas sobrevive, contudo podem sofrer lesões leves a graves. A situação agrava-se quando a velocidade se aproxima ou supera os 50 km /h, onde o peão tem uma elevada probabilidade de lesões graves e uma probabilidade de cerca de 10% que poderão levar à morte. A partir dos 50 km/h, a probabilidade de morte aumenta exponencialmente com a velocidade.
Considerando dois dos exemplos que o Centro Pericial de Acidentes analisou, um atropelamento com uma vítima mortal, e um segundo atropelamento com lesões graves, verifica-se que a velocidade mais uma vez foi impactante no desfecho final de cada acidente. No primeiro acidente, a viatura circulava a aproximadamente 66 km/h no momento do atropelamento provocando a morte do peão, enquanto que no segundo acidente, a viatura circula a aproximadamente 31 km/h e o peão ficou com lesões graves- Contudo, é importante referir que intensidade da lesão depende de diversos fatores como por exemplo a idade, sexo, peso, altura, posição de impacto, altura do centro de gravidade do veículo e comportamento do peão momentos antes do atropelamento (reações de defesa).
Colisões de veículos
Uma colisão entre duas viaturas pode desencadear várias lesões. Um exemplo de um impacto lateral entre duas viaturas com velocidade de embate de aproximadamente 80 km/h foi suficiente para um dos ocupantes que sofreu o impacto lateral ficar com várias lesões graves – probabilidade de lesão grave de 95%. Se a velocidade fosse inferior à velocidade limite da via – 50 km/h - a probabilidade de lesão máxima seria de apenas 50 %. Para uma velocidade de colisão de 30 km/h num impacto lateral, a probabilidade de lesão grave já reduz para os 10 %.
Excesso de velocidade está também diretamente relacionado com o aumento significativo das distâncias de paragens. Uma viatura (em piso seco) que circule a aproximadamente 50 km/h necessita de cerca 12,3 metros para se imobilizar, enquanto uma viatura que circule a 30 km/h precisa de 4,4 metros para parar.
É possível concluir que a velocidade é um fator preponderante na ocorrência de acidentes de viação. A velocidade poderá determinar se um condutor terá espaço e tempo para parar atempadamente e, se não conseguir, com que velocidade irá embater e quais as consequências, assim como qual a probabilidade do nível de lesão associado a essa mesma velocidade.
A investigação de acidentes, através da sua reconstituição científica recorrendo a simulações computacional e análises da dinâmica de multicorpo, é importante de modo a determinar as respetivas causas, bem como na criação de planos de sensibilização para a população geral.
Referências
1 Relatório de sinistralidade e fiscalização de novembro 2021
Páginas Relacionadas
Serviços | Perícias Científicas